“O HIDROGÉNIO APORTA FLEXIBILIDADE E PERMITE OPTIMIZAR O USO DE FONTES RENOVÁVEIS”

Para Teresa Ponce de Leão, Presidente do Conselho Directivo do LNEG – Laboratório Nacional de Energia e Geologia, “o hidrogénio surge como o elemento que vai trazer flexibilidade aos sistemas energéticos”. Conheça mais da posição do LNEG relativamente às valias e vantagens do hidrogénio em Portugal.

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O LNEG é hoje um dos principais players no domínio da investigação sustentável e para a sustentabilidade através da geração do conhecimento do território. Para contextualizar junto do nosso leitor, de que forma é que a organização tem vindo a promover o desiderato de responder às necessidades do setor empresarial?
O LNEG é um Laboratório do Estado tutelado pelo Ministério do Ambiente e Ação Climática, que aplica, com independência, o conhecimento científico e tecnológico em áreas chave para uma economia sustentável, energia renovável, eficiência energética e economia circular. Este ano, o nosso Plano de Atividades foi desenhado com a preocupação do seu alinhamento com os eixos estratégicos do Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020 | 2030. Para o efeito foi promovido um exercício interno, agregando competências no sentido de eleger e hierarquizar programas. Fazemos parte de importantes redes europeias como a EERA (European Energy Research Alliance), a eseia (European Sustainable Energy Innovation Alliance) ou o EGS (EuroGeoSurveys), procurando estar em linha e fazer parcerias com os melhores exemplos. Procuramos posicionar-nos para um efetivo apoio ao governo e à sociedade em transição, fortalecendo sinergias com os sectores estratégicos.
Ainda, no que respeita ao sector empresarial temos apostado no desenvolvimento de infraestruturas tecnológicas para a indústria e na participação em laboratórios colaborativos que têm uma constituição de 50% de instituições científicas e 50% de empresas apoiando, em colaboração, a inovação no sector empresarial.

Sob o lema “construir um futuro mais limpo e melhor”, o LNEG tem como visão ser uma instituição de referência capaz de contribuir com soluções de excelências para uma economia descarbonizada. De que forma?
Temos vindo a focalizar a nossa actividade para uma resposta diferenciada e útil à sociedade. Conhecemos bem os nossos recursos naturais renováveis e as tecnologias que os permitem explorar para a energia, quer para a produção de electricidade, quer para a produção de hidrogénio ou biogases. Somos ainda o repositório do conhecimento para a promoção da eficiência energética, no edificado urbano ou na indústria. Disponibilizamos esse conhecimento à sociedade transferindo-o para a aplicação desse mesmo conhecimento.

Cada vez mais ouvimos falar da Economia do Hidrogénio, um potencial que pode resolver problemas como potenciar o desenvolvimento tecnológico e a inovação e, mais importante, cumprir os objetivos ligados ao tão necessário desenvolvimento sustentável, à proteção do ambiente e à criação de uma sociedade mais verde. Em Portugal, este debate está também na ordem do dia. Assim, quais as mais-valias da Economia do Hidrogénio na Sociedade Portuguesa?
Portugal é um dos países com maior penetração de renováveis face ao consumo e o primeiro país no mundo a afirmar que quer estar totalmente descarbonizado em 2050. Até agora muito se tem falado da variabilidade da maior parte das fontes renováveis e do problema de garantir a segurança e o abastecimento no sistema energético. Com a saída de serviço das centrais de ciclo combinado deixa de existir o backup necessário para quando o recurso renovável não está lá. Aqui surge a necessidade de garantir esse backup por via do armazenamento. O hidrogénio pode ser armazenado em reservatórios, nas condutas de gás ou em cavernas geológicas o que não acontece com a electricidade, pelo menos em larga escala.
Por outro lado, o hidrogénio é já um vector muito utilizado, principalmente na indústria e surge agora como um vector renovável desde que seja produzido a partir de fontes renováveis. É também um vector de eleição para aportar flexibilidade e permitir optimizar o uso de fontes renováveis.
O hidrogénio tem uma vantagem adicional, permitir descarbonizar sectores de difícil descarbonização como a aviação, transporte marítimo, transporte pesado de longo curso e o sector industrial que tradicionalmente já utiliza hidrogénio ou seus derivados mas produzido a partir de combustíveis fósseis.

A implementação do hidrogénio na economia portuguesa será suportada em novos conceitos – e há quem afirme – para os quais o conhecimento e experiência ainda não está consolidada a nível nacional. Concorda? O que falta?
O hidrogénio é um vector energético há muito utilizado na indústria. O que é verdadeiramente novo é produzi-lo a partir de fontes renováveis e direccionar a sua aplicação para alguns usos que ainda não tinham sido experimentados, pelo menos em grande escala.
Não há conhecimento sem experimentação nem experiência sem conhecimento e é por aí que temos de avançar através da análise rigorosa e detalhada, avaliação e identificação de incertezas nos projectos e identificar soluções que aportam mais valias para a sociedade. A estreita ligação entre as empresas e o sector do saber será crucial para acelerar esse conhecimento e sua aplicação na prática.

Qual poderá ser o contributo do hidrogénio para a transição energética e para um futuro mais verde?
O hidrogénio verde pelas suas características enquanto vector energético armazenável e pelas suas múltiplas aplicações principalmente nos sectores difíceis de descarbonizar como a indústria pesada, o transporte de longo curso, marítimo, aéreo e até mesmo rodoviário e ferroviário (veja-se os problemas ligados à gestão territorial e societal quando se torna muito difícil ou mesmo inviável contruir uma catenária devido ao seu impacto visual). Outra vantagem associada à sua capacidade de armazenamento é aportar flexibilidade aos sistemas o que ainda não se atinge com as baterias.

Sendo o LNEG uma instituição que desenvolve investigação de apoio de respostas às questões emergentes da sociedade na área da Energia (entre outras), será o hidrogénio o próximo passo para a sustentabilidade?
O hidrogénio surge como o elemento que vai trazer flexibilidade aos sistemas energéticos.

Neste artigo não é usado o novo acordo ortográfico.