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BIM – a BIMby para a Construção Civil?

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BIM – a BIMby para a Construção Civil?

Opinião de Joaquim Nogueira de Almeida, Partner da Proconsultores

Isto tem alguma ligação com o BIM – Building Information Modelling?

É que ultimamente ouve-se muito falar no BIM e é agora apresentado como a solução para a grande evolução na Construção Civil.  Mas será assim?

O robot de cozinha BIMby apareceu em 1971 em França e por coincidência o BIM começou também a dar os primeiros passos na década de 70 nos EUA.

O meu primeiro contacto com algo parecido ao BIM foi em 1982 numa cadeira do Técnico (IST) que se chamava “Desenhos e Métodos Gráficos II”. Nessa cadeira, apoiada com a aprendizagem feita em programação em Fortran 77 na cadeira “Introdução aos Computadores e Programação”, aprendemos as bases da programação desenhos em 3D onde fiz um programa para representar em papel (2D) uma imagem 3D do volume de um edifício com a ocultação das linhas não visíveis em determinadas vistas.

Este novo mundo, abriu-se com a programação ainda feita em linhas de código transcritas em cartões perfurados.

Cinco anos mais tarde quando acabei o Técnico, tive o desejo de aprender mais sobre desenho em 3D. Desde o início senti que era o futuro para a conceção otimizada de um projeto, nomeadamente pela identificação “fácil” de conflitos entre os vários componentes da construção. O Autocad, que na altura dava os primeiros passos e que todos pirateávamos, era muito básico e só tinha opção em 2D. Assim,  acabei por fazer um curso em 1988 no antigo LNETI de “Operadores de CAD/CAM – Arquitetura e Engenharia Civil” onde numa Microstation da Intergraph tive a oportunidade real de fazer a modelação de um edifício em 3D e de simular já nessa altura a instalação de umas tubagens de águas e esgotos. Uma delícia, mas o equipamento custava mais que uma casa, para alem de o “servidor” ocupar uma sala.

Acabei por me resignar e ir usando o Autocad nas suas versões em 2D. Mais tarde em 2000 já na minha empresa de projetos, com a integração na existente equipa de engenheiros, de arquitetos mais habituados ao 3D, decidi começar a incorporar algumas metodologias de compatibilização dos diferentes componentes da construção para minorar os erros de coordenação entre as várias especialidades. O foco foi essencialmente nos projetos de AVAC e esgotos, por serem os componentes mais difíceis de se adaptarem ao espaço disponível. Conseguimos com essas metodologias evitar erros, alguns graves, de conceção dos espaços necessários nos edifícios.

Estes eram os princípios do BIM 3D, aquele que foi a base para passarmos para uma maior integração de informação para a construção. No entanto, a partir de 2010 com o grande crescimento de capacidade de processamento dos computadores e da sua memória, começaram a integrar outras variáveis no mesmo modelo digital de representação. Incorporou-se o tempo (BIM 4D), ou seja, a possibilidade de definir as sequencias de construção e instalações, podendo ser ligados a módulos de planeamento (Gant e Pert) para melhor otimizar o tempo de construção e o seu controlo durante a construção. De seguida incorporou-se a variável dos custos (BIM 5D), de alguma forma ligado ao planeamento, mas com um acrescento importante na utilização das quantidades de materiais na sua conceção e no controlo destes ao longo da construção. Seguidamente incorporou-se a sustentabilidade (BIM 6D) com a análise dos consumos de energia, a manutenção (BIM 7D) para a gestão e controlo de instalações e edifícios, durante a sua exploração, e por fim juntou-se a segurança e saúde ocupacional (BIM 8D) para a gestão destas questões desde a construção, exploração e demolição dos edifícios.

Na teoria, isto é fantástico, um All-in-One que obviamente traz mais qualidade, mas essencialmente mais economia de tempo e dinheiro, já que o que se pretende é em grande parte evitar erros, reduzir tempo e custos.

No entanto já existiam no mercado há muito tempo muitas soluções mais acessíveis que integram partes destas dimensões do BIM, mas juntá-las a um desenho 3D traz para um outro nível toda a coordenação de competências que têm técnicos de formações muito diferentes. Colocar estes técnicos todos a trabalhar no mesmo “código” obriga não só a uma forte formação transversal a todas as profissões e funções envolvidas, como a uma grande disciplina de trabalho.

Estarão as pessoas envolvidas dispostas a formarem-se em software BIM? A mudarem radicalmente o seu método de trabalho? A custear a formação e a despender tempo nela?

As empresas estarão dispostas a comprar, os ainda muito dispendiosos, programas BIM sem terem técnicos formados e procedimentos rentáveis na sua utilização? Na compra de hardware com grande capacidade de processamento e memória? Na formação dos seus técnicos?

E ainda, será que vale o esforço, quando em termos legislativos, Portugal é uma manta de retalhos de legislação urbanística, onde cada um dos 308 municípios faz a sua lei com procedimentos e condicionantes diferentes? Investir no BIM para depois perder grande parte das suas vantagens na deficiente legislação valerá a pena?

E quais são as universidades que têm os seus formandos a sair com prática em BIM? As de Arquitetura? E a Engenharia que é mais de 80% da matéria do BIM, onde estão nesta corrida?

Antes de impor o BIM numa legislação inconsequente, o estado deveria promover o ensino aprofundado desta tecnologia nas universidades de engenharia e arquitetura, bem como nos centros de formação profissional para quadros intermédios. Seguidamente deveria haver um incentivo para tornar acessível o software BIM e ao mesmo tempo a formação desta metodologia aos quadros existentes nas empresas. Paralelamente o estado deveria impor procedimentos nacionais (deixando de ser municipal) de regras de licenciamento urbanístico, introduzindo aí a metodologia BIM como base otimizada e integrada de trabalho. Um caminho diferente deste será na minha opinião uma perda de dinheiro e tempo para o país.