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“Motiva-me sentir que estou em constante evolução e aprendizagem”

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“Motiva-me sentir que estou em constante evolução e aprendizagem”

A Carla Pereira conta com um vasto percurso ligado à área da saúde, tendo um trajeto curioso para um Médico em Portugal. Assim, e de forma a contextualizar os leitores, como nos pode descrever o mesmo até aos dias de hoje?

O meu percurso tem sido uma aventura gratificante, feita de muito trabalho, dedicação e decisões corajosas (algumas foram saltos no escuro, mas foi nessas alturas que percebi que era capaz e evoluí).

Enquanto médica, especializei-me em Medicina Geral e Familiar porque queria praticar uma medicina holística e próxima. No entanto surgiu a oportunidade de trabalhar em Medicina Farmacêutica e fiz uma mudança de 180º que me obrigou a reaprender quase tudo! O início foi duro mas fascinante, e sinto que tenho feito a diferença nas empresas onde tenho desenvolvido projetos, ligando a ciência e a medicina, os investigadores e os clínicos, impactando positivamente a prática clínica sobre inúmeros doentes.

Recentemente ganhou responsabilidades de liderança a nível internacional. Como é ser uma mulher portuguesa num meio internacional e muito competitivo?

É uma enorme oportunidade, porque não há outras portuguesas a este nível na empresa onde trabalho, por isso é importante fazer bem, ser consistente, adaptável, resiliente e humilde. É um trabalho que envolve muita estratégia, planeamento, gestão simultânea de vários temas complexos e entregar com elevada qualidade.

Quanto ao facto de ser mulher, nunca me senti tratada de um modo diferente. Várias pessoas acreditaram e apostaram em mim e foram essas atitudes que me marcaram e moldaram.

Já por ser portuguesa… a resposta é diferente. Sinto que temos sempre de nos esforçar o dobro ou triplo de um colega igual a nós mas que venha de um país grande e influente. Além disso, temos o esforço adicional de ter de aprender a lingual local (além do inglês) para sermos mesmo incluídos e considerados. Porém também existem vantagens: estamos habituados a adaptar-nos aos outros, somos naturalmente simpáticos e uma mais-valia numa equipa porque somos trabalhadores e sabemos bem o verbo “desenrascar”. Tenho orgulho de ser portuguesa e faço sempre questão de o sublinhar!

Várias têm sido as adversidades impostas pela pandemia da COVID-19. Assim, de que forma tem conjugado as novas responsabilidades internacionais com estas mudanças sociais e ainda com a família?

Vivi semanas desconfortáveis durante a adaptação a uma função, realidade (digital) e equipas totalmente novas. O dia de trabalho passou a conciliar diversos fusos horários (com uma equipa espalhada por 4 continentes), a lidar com culturas diferentes, requerendo uma visão mais abrangente de muitas realidades particulares em simultâneo, tudo isto virtualmente, enquanto cuido da casa e das necessidades da família. É precisa muita organização.

Para conseguir alcançar todos estes objetivos, é necessária uma dose de resiliência. O que a motiva no seu dia a dia? Do que é que mais gosta na sua atividade?

Motiva-me saber que estou a ter um impacto positivo, que estou a ajudar a melhorar a prática da medicina e a saúde das pessoas; motiva-me sentir que estou em constante evolução e aprendizagem, a procurar criar um mundo melhor para as gerações futuras.

Costumo dizer que “Mais importante que o destino é a viagem”, e isso recorda-me a importância de desfrutar o momento, de apreciar as pessoas, os lugares e mesmo as circunstâncias mais difíceis que nos permitem sempre tirar alguma lição. Como humanos, estamos quase sempre mais focados naquilo que ainda está por fazer, é fácil esquecer aquilo que já fizemos – mas ter essa consciência é um combustível muito importante e motivador para continuar.

Por fim, gostaria de deixar uma mensagem a todas as mulheres que, ambicionam marcar uma posição no mundo do trabalho?

Em primeiro lugar, é importante ser-se fiel a si própria e acreditar em si mesma. O mundo vai pôr-vos à prova e fazer-vos duvidar disso muitas vezes.

Investir numa boa educação de base é outro fator-chave, porque nos dá as primeiras ferramentas para enfrentar o mundo do trabalho, mas nunca podemos parar de aprender! Essa atitude é importante para progredir e sair da zona de conforto.

Em terceiro lugar, as pessoas de que nos rodeamos, seja a nível pessoal, social ou profissional, são fundamentais no estabelecimento de um ambiente propício e estimulante.

Finalmente, é importante não desistir ao primeiro “não”, porque vivemos num mundo que tem muito de subjetivo e parcial. Ter ‘sorte’ dá muito trabalho!