Início Atualidade “Está nas nossas mãos, como consumidores e eleitores, lutar pelo verdadeiro bem comum a todos: o Planeta em que vivemos”

“Está nas nossas mãos, como consumidores e eleitores, lutar pelo verdadeiro bem comum a todos: o Planeta em que vivemos”

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“Está nas nossas mãos, como consumidores e eleitores, lutar pelo verdadeiro bem comum a todos: o Planeta em que vivemos”

Nuno Arruda, Executive Board Portugal e Senior Director – Head of Sales and Client Management da Willis Towers Watson

 De acordo com informação partilhada recentemente pelo World Economic Forum, no âmbito de um estudo da Swiss Re, perante um aumento de temperatura na ordem dos 3,2ºC, as alterações climáticas terão destruído 18% do Produto Interno Bruto Global em 2050.
Um estudo publicado recentemente pela Cloud to Street, parceira da Willis Research Network, oferece novos elementos e informações sobre o crescente risco de inundações em todo o mundo, tendo concluído que a proporção da população global exposta a cheias cresceu 24% desde o início do novo milénio, afetando entre 255 e 290 milhões de pessoas.
Tal acaba por se traduzir numa grande pressão não só financeira, mas também regulatória, dos investidores (e também da opinião pública e dos consumidores) nas empresas para por um lado, reduzirem o seu impacto ambiental (descarbonização, investimento sustentável etc.) mas também para quantificarem e mitigarem os riscos climáticos a que estão expostos (por exemplo a TCFD Taskforce for Climate-related Financial Disclosures) com o objetivo de irem ao encontro da exigência de transparência à volta destes riscos e encorajar as organizações a introduzirem a resiliência e a sustentabilidade a longo prazo nas suas estratégias e processos.
A verdade é que nos últimos 18 meses o foco global esteve muito no controlo da pandemia da COVID-19, desviando um pouco a atenção do tema dos riscos climáticos.
Agora, enquanto lutamos para recuperar da pandemia, temos a oportunidade de aprender algo com esta experiência recente e acelerar o combate às mudanças climáticas, projetando uma sociedade mais resiliente, mais capaz de gerir riscos complexos e interconectados em todos os níveis da sociedade e da indústria. A pandemia é, como os riscos climáticos, uma megatendência, tanto em termos de impacto na sociedade e nas economias como na escala e complexidade das possíveis respostas necessárias. Efetivamente, as alterações climáticas abrangem e ligam os aspetos ambientais, sociais e de governance (ESG) da gestão das empresas (públicas ou privadas) e devem condicionar as políticas nacionais e internacionais.
À medida que a ESG evolui para ir além do mundo da responsabilidade social corporativa e se torna uma estrutura para lidar com riscos complexos, para lá do âmbito individual ou de entidades únicas, estas questões globais devem ser revistas e geridas de forma holística através de uma compreensão analítica mais profunda das muitas facetas da gestão de risco.
Num mundo a mudar a um ritmo nunca visto, a sociedade é obrigada a enfrentar esses desafios num contexto geopolítico complexo e é essencial que os processos de tomada de decisão sejam baseados em evidências: medir, partilhar e depois gerir. O risco não é distribuído de forma uniforme pelo que as respostas a desafios complexos, como uma pandemia ou os riscos decorrentes das alterações climáticas, devem ser vistas no contexto global de tendências globais, como a urbanização, o crescimento populacional, as mudanças demográficas, a degradação ambiental ou a evolução tecnológica, aspetos fundamentais para as escolhas comportamentais individuais e para a tomada de decisões políticas ou de negócios.
E é na quantificação e planificação para os riscos climáticos que os consultores mais têm trabalhado. Na Willis Towers Watson temos assumido a liderança não só na investigação, divulgação e sensibilização (através da Willis Research Network que junta mais de 60 organizações académicas e de investigação e como membro fundador da Coalition for Climent Resilient Investment) mas também criando modelos analíticos preditivos: acabamos recentemente de lançar o Climate Quantified que vem complementar e de alguma forma “democratizar” os modelos feitos ad-hoc. Mais, temos trabalhado ativamente com os nossos clientes no sentido de os ajudar a enfrentar novos critérios de investimento e na sua própria transformação.
Já o mercado (re)segurador tem um papel essencial na transferência destes riscos e terá acima de tudo que se adaptar e ser capaz de criar soluções alternativas para riscos que se medirão e manifestarão de forma diferente. A verdade é vemos hoje crescer a procura por soluções paramétricas, associadas a índices e variações mais do que a fenómenos súbitos e acidentais.
Um outro fator que cria incerteza é o risco da transição, ou seja, os riscos (e oportunidades) associados à mudança para uma economia de carbono baixo ou zero, sejam eles mensuráveis, como os custos de mudança de infraestrutura para eletricidade e energia renovável, ou indeterminados. Uma transição rápida, em que as políticas e regulamentações impulsionam metas que exigem mudanças drásticas e rápidas, seria muito diferente para um mundo de transição mais lenta. Na verdade, uma transição rápida quase poderia atuar como uma estratégia de “mitigação” ao reduzir a necessidade de gastar em medidas de adaptação a longo prazo.
Por outro lado, uma transição lenta exigiria esforços muito maiores para gerir a resiliência e recuperação a desastres, pois os padrões climáticos mudam mais rápido do que os ecossistemas e as comunidades se adaptam. Além disso, no longo prazo, os níveis de carbono seriam ainda mais altos, levando a estratégias de mitigação mais caras se o objetivo for voltar aos níveis pré-industriais.
E além de chegar a um acordo sobre um conjunto comum de métricas e metodologias de transição, todos temos um conjunto pessoal de valores que influenciarão as suas ações relativamente às mudanças climáticas. Isso também se aplica ao mundo dos negócios. Posturas políticas partidárias em todo o mundo tornam essa divisão entre ação e inação ainda mais clara.
Este é um tema muito complexo que nos impacta a todos. Mas também depende de todos (e não só das grandes empresas) fazer a nossa parte para tentar atenuar ou atrasar este fenómeno: está nas nossas mãos como consumidores e eleitores lutar pelo verdadeiro bem comum a todos: o planeta em que vivemos.