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“Já existe um ecossistema de Inovação Aeronáutica em Portugal”

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“Já existe um ecossistema de Inovação Aeronáutica em Portugal”

Sabemos que a Almadesign combina perspetivas de praticamente todas as áreas, tendo como principal foco a inovação ao utilizar o design como uma ferramenta capaz de unir pessoas e capacidades. De que forma o setor da indústria aeronáutica tem vindo a assumir-se cada vez mais como um setor indispensável na promoção da inovação, formação especializada, entre outros?
Acreditamos que o design pode efetivamente unir pessoas e capacidades, pela sua capacidade de ouvir – as necessidades dos utilizadores, dos operadores e dos fabricantes – e de materializar novas soluções, tangibilizar o futuro dos novos produtos e serviços. O setor aeronáutico sempre foi pioneiro no desenvolvimento tecnológico com um forte efeito de contaminação em setores afins. Na Almadesign, para além de um longo trabalho com a TAP no design de todos os interiores de cabina da frota, estamos a contribuir para a sustentabilidade do setor, com projetos na área da aviação regional e Urban Air Mobility.

Quão importante é para a Almadesign promover a área da Aeronáutica, e do Espaço e Defesa, não só em Portugal, como também além-fronteiras? Quais os maiores desafios que encontra neste sentido?
Neste momento cerca de 70% dos projetos da Almadesign são na área Aeronáutica, pelo que para nós é um setor fundamental. O mercado português é muito interessante, mas principalmente porque foi a experiência em projetos nacionais que nos abriu portas para o mercado internacional cada vez mais importante para nós. Por outro lado, na última década temos conseguido reunir muitas empresas em associações, clusters e projetos que têm promovido a indústria portuguesa de forma articulada, demonstrando que já existe um ecossistema de inovação aeronáutica em Portugal. O maior desafio tem sido sempre o de unir esforços para ganhar escala internacional. Mas hoje, já podemos considerar esse processo bem-sucedido.

Estando a inovação marcada no ADN da Almadesign, como foi participar na Conferência dos AED Days 2021 em formato híbrido? Acredita que este pode ser um ponto de viragem na ótica da evolução tecnológica? Que aspetos positivos esta “mudança” acarreta para a empresa?
O modelo híbrido é provavelmente o mais produtivo, ao permitir a participação em múltiplos eventos de forma remota ou presencial. Ao retirarmos o tempo de viagem entre locais, temos uma otimização de tempo e a hipótese de participar num maior número de eventos (estamos presentes ao mesmo tempo, em diversos locais…) e consequentemente aumentamos a produtividade. No entanto, também notamos que este excesso de participação / informação leva a um maior cansaço das equipas e colaboradores, e a falta de contacto presencial, resulta na perda de oportunidades e experiências fundamentais para chegar a resultados inovadores. Depois da experiência totalmente digital de 2020, estamos a trabalhar na AED para o aperfeiçoamento do modelo híbrido, que nos parece o melhor.

Certo é que caminhamos para um mundo cada vez mais digital. Considera que a valorização do Capital Humano poderá ser prejudicada, tendo em conta a Transição Digital com a qual nos deparamos?
Na Almadesign temos uma equipa muito competente e motivada e procuramos sempre manter o melhor talento. Com a transição digital procurámos adaptar as melhores metodologias de trabalho, como um modelo híbrido entre trabalho no escritório e em casa, de modo a permitir à equipa uma melhor gestão pessoal, familiar e profissional. A utilização de plataformas de trabalho colaborativo online permitiram simplificar alguns processos, mas trouxeram também grandes desafios. Na verdade, na Almadesign também acreditamos que as interações informais decorrentes do trabalho presencial têm um papel muito importante na inovação e criatividade. Neste momento, com o “pó a assentar”, estamos a procurar manter o melhor dos dois mundos.

Um dos principais objetivos da marca passa por estimular a criatividade da equipa, desenvolvendo assim uma cultura de excelência. Numa empresa como a Almadesign, quão desafiador se torna encontrar profissionais capazes de elevar a marca a um patamar superior? O que a diferencia das restantes?
Temos uma estreita relação com a Academia e uma grande rede de empresas e institutos parceiros nos quais recrutamos os nossos profissionais. Mas é sempre um desafio encontrar os colaboradores certos, com as características pessoais e técnicas que se adaptem à cultura da empresa. Mas podemos dizer, sem falsa modéstia, que o trabalho desenvolvido pela Alma e o reconhecimento internacional demonstra que temos conseguido reunir uma equipa excelente.

A pandemia da covid-19 afetou todas as áreas. Julga que pode ter sido um marco importante no caminho da evolução tecnológica e inovação do design aeronáutico? De que forma?
Claramente a pandemia afetou toda a sociedade e a indústria. A indústria da aviação, em particular, sofreu enormes quebras no número de passageiros e terá de se reinventar para recuperar o mercado perdido. Uma melhor experiência de passageiro, um serviço mais eficiente, mais seguro, mais confortável, irá diferenciar as empresas com futuro promissor. A pandemia também nos mostrou que certos problemas são globais o que nos levou a acelerar a transição para uma mobilidade mais sustentável. Nesse sentido estamos a trabalhar em diversas frentes no projeto de soluções inovadoras para a aviação com zero emissões, recorrendo a materiais mais sustentáveis e a soluções mais confortáveis e seguras. Desde a aviação regional à Mobilidade Aérea Urbana.

De uma maneira geral, qual é, para si, o atual cenário deste setor em Portugal?
Atualmente existe um ecossistema com mais de cem empresas de excelência no setor, as quais contribuem para uma percentagem considerável do nosso PIB. As provas dadas por estas empresas a nível internacional permitiram o aumento da confiança junto dos grandes OEM na indústria nacional, o aumento de colaboração em projetos internacionais, a maior participação na definição de políticas públicas locais e europeias e a fixação de alguns grandes players em território nacional.

Para terminar, o que podemos esperar da Almadesign daqui para a frente? Quais serão os próximos passos?
O nosso foco está na utilização do Design como ferramenta de apoio à transição energética sustentável, no caso da aeronáutica, no desenvolvimento de soluções de zero emissões para a aviação – projetos como a Alice para Eviation, ou o FLY-PT, uma aeronave para Urban Air Mobility- para a rodovia – e em outras áreas, projetos como os autocarros urbanos elétricos e a hidrogénio para a Caetanobus, ou o projeto MOBINEXT para uma scooter elétrica desenvolvida e fabricada em Portugal. Nestes segmentos, a nossa intervenção tem passado não só pelo design dos veículos, mas também pela infraestrutura de apoio e carregamento. Ainda no setor náutico desenvolvemos produtos como o Catamaran elétrico da Sunconcept ou, mais recentemente, um ferryboat elétrico para Aveiro, que deverá iniciar operação em 2022. Em complemento, temos outros projetos internacionais em curso, envolvendo produtos e serviços mais sustentáveis e de que daremos conta em breve.