O iBET é uma marca de investigação intensiva na área da Biotecnologia e Ciências da Vida. 33 anos após o início da sua atividade, quais os motivos que fomentam o facto de hoje ser a maior instituição privada portuguesa dedicada a estas áreas?
Criado há 33 anos, o iBET é uma entidade privada sem fins lucrativos que faz a ponte entre a investigação académica e as necessidades da indústria, quer nacional, quer internacional. Na última década crescemos muito graças a um forte investimento na translação do conhecimento gerado em I&D em prestação de serviços de investigação à indústria, maioritariamente internacional. Somos certificados pelo Infarmed em boas práticas de fabrico (GMP), o que diferencia a qualidade dos serviços que prestamos. Atualmente, exportamos mais de 90% da nossa atividade de investigação. Temos investido muito em áreas estratégicas do desenvolvimento de biofármacos, que incluem plataformas para produtos de terapia celular, terapia génica e vacinas, plataformas para descoberta de novas moléculas biológicas e anticorpos, e ainda o desenvolvimento de modelos celulares complexos para testes pré-clínicos. Ao procurar equilibrar a investigação mais fundamental com a aplicação de conhecimento na indústria, temos aumentado competências e a diversidade de áreas de especialização que nos posiciona estrategicamente a nível internacional. Saliento, por exemplo, a existência de quatro laboratórios satélite dedicados em exclusivo a projetos de I&D para a Merck, Bayer, Novartis e Sanofi que identificaram no iBET uma enorme mais-valia para a extensão das suas atividades de drug discovery.
Esta organização trabalha numa gama ampla de vertentes que abrangem abordagens multidisciplinares que vão desde pesquisa básica, tecnológica ou clínica, desde o desenvolvimento de biofármacos e novas terapias, até áreas de alimentação e saúde. Em todos estes campos, de que forma o iBET garante a ambição, o compromisso, a procura por conhecimento e a inovação que o caracteriza?
Em todas as áreas de atuação do iBET seguimos altos padrões de qualidade e rigor científico. Para avançarmos precisamos de inovar constantemente e acompanhar os desenvolvimentos nessas mesmas áreas. Buscamos constantemente por novo conhecimento e combinamos experiência com inovação para estar na fronteira da ciência e acompanhar o mercado. Somos conhecidos como instituição ambiciosa e de confiança, que não tem medo de arriscar e ir mais longe para abraçar novos desafios e desenvolver os melhores produtos e terapias inovadoras para o mundo. Aprendemos sempre algo novo com qualquer projeto e colaboração. É assim que asseguramos este espírito inovador e de confiança.
Na prossecução da sua missão, um dos objetivos do iBET é impulsionar a utilização mais rápida das novas ferramentas Biotecnológicas nas atividades empresariais. Quão importante é a sua concretização e de que forma tem sido propagada?
Para nós sempre foi prioritário investir em áreas de interesse para as empresas, maximizando a utilização do nosso conhecimento e contribuindo para valorizar os produtos dos nossos associados e parceiros. Atuamos na área da saúde e na área agro-alimentar, em que estudamos também o impacto da alimentação na saúde. Para alargar a nossa resposta a pedidos vindos do exterior, inaugurámos, em 2019, duas novas instalações: a Unidade Late-Stage R&D, dedicada ao desenvolvimento de bioprocessos para a produção de moléculas terapêuticas inovadoras, e a Unidade de Bioprodução, para produzir em larga escala e purificar estas mesmas moléculas. Este aumento de escala é essencial para passarmos da fase de I&D para a manufatura e posterior teste e comercialização dos produtos que ajudamos a desenvolver. Um bom exemplo da nossa transferência de tecnologia para o mercado foi a criação, em 2006, da spin-off GenIbet, especializada no desenvolvimento de lotes GMP (good manufacturing practices) para ensaios clínicos. Assim, conseguimos ter todo o ciclo da produção de biofármacos que precedem a fase de ensaios clínicos dentro do iBET. É uma oferta abrangente e única em Portugal. A GenIbet foi recentemente adquirida pela Recipharm. Será muito importante atrair para Portugal mais investimento para alavancar e aumentar a competitividade nestas áreas, abrindo espaço para a criação de novas instituições científicas que alarguem o hub científico que temos construído.
A verdade é que a investigação e a aposta na inovação na área da saúde, são dois pontos basilares para o bem-estar humano. Assim, em que medida é fundamental continuar a promover valor científico e tecnológico no domínio da Biotecnologia?
As nossas áreas prioritárias são o desenvolvimento de produtos biológicos para terapias génica e celulares, assim como vacinas, que têm procura crescente neste mercado. Nestes processos estão incluídas as áreas computacionais, data science, e técnicas Ómicas, cuja importância é crescente no design e caracterização de qualquer produto de terapias de precisão. Saliento ainda a nossa especialização em fornecer serviços de investigação tailor-made, que satisfazem necessidades específicas dos nossos parceiros. Este conjunto de abordagens é muito valorizado e é nelas que continuaremos a investir, no contexto da rede internacional de parcerias que temos construído. Uma prova concreta do nosso investimento e compromisso de expansão é a construção do novo edifício iBET Biofarma, com início de atividade previsto para início de 2023. Este edifício terá cerca de 5500 metros quadrados, distribuídos em 25 novos laboratórios de I&D, que incluirão laboratórios para manufatura de lotes de biológicos para ensaios clínicos e um laboratório elevado grau de segurança (nível 3) para manuseamento de vírus patogénicos humanos. O investimento de mais de 20 milhões de euros permitirá alavancar a investigação no desenvolvimento de vacinas e de outros medicamentos biológicos, continuando com grande foco nas parcerias internacionais. Com este investimento ambicionamos criar ainda mais valor científico e tecnológico no domínio da Biotecnologia, com grande impacto na saúde humana, ao mesmo tempo que aumentamos a massa crítica nesta área em Portugal.
Fazendo uma análise a Portugal, como tem vindo o país a apostar nestes âmbitos, promovendo soluções de Biotecnologia com impacto na saúde humana? A inovação é encarada como um recurso crítico – que serve os interesses de todas as partes – para a saúde pública?
Porque o IBET desenvolve tais soluções na sua grande maioria em parcerias internacionais, não temos conhecimento específico das políticas portuguesas, incluindo aprovações e financiamentos necessários para implementação de tais políticas. Parece-nos, do que observo como cidadã, que a atitude é globalmente positiva.
De forma a incentivar a inovação e investigação, sabemos que o iBET forma, ainda, pesquisadores e desenvolvedores interdisciplinares e criativos nas suas interfaces críticas para o desenvolvimento Biotecnológico. É legítimo afirmar que a organização tem o propósito de «criar» a geração de amanhã, consolidando a importância da inovação e da investigação na área da saúde humana? Que impacto este posicionamento trará ao futuro?
Faz parte da missão do iBET o investimento nas nossas pessoas. Apesar do nosso crescimento, mantemos uma cultura bastante familiar que é valorizada pelos nossos parceiros. Empregamos atualmente cerca de 110 doutorados, num total de 270 colaboradores, dos quais 70% são mulheres, e média de idades de 37 anos. Procuramos constantemente atrair jovens talentos junto das nossas Universidades, que formamos cá dentro ao nível de Mestrados e Doutoramentos, e temos recrutado também vários investigadores com experiência internacional que constituem uma mais-valia na formação desta geração de amanhã. De forma a reter este talento, temos uma preocupação clara em cuidar das nossas pessoas e oferecer-lhes as melhores condições de trabalho. Procuramos criar equipas multidisciplinares em biologia, bioquímica, bioengenharia, ciências computacionais, data science com as quais procuramos estimular os nossos cientistas e técnicos a colaborar e aprender entre si. É um investimento contínuo e a longo-prazo na formação de pessoas, quer a nível científico como também em competências interpessoais e de liderança, cada vez mais importantes para criar equipas de sucesso. Investimos também muito em políticas salariais com base na meritocracia e em condições de ponta ao nível das nossas instalações e equipamento.
É a construir um caminho de parceria, de colaboração e de inovação que se pode almejar salvar vidas de forma equitativa. Neste sentido, qual continuará a ser o papel do iBET para um futuro otimista da sua área?
O sucesso do iBET sempre passou pela criação de parcerias e colaborações, tanto nacionais como internacionais. A nossa estratégia de aposta na investigação em paralelo a uma ligação privilegiada ao tecido empresarial permitiu-nos antever necessidades e posicionar-nos estrategicamente. No global, foi esta sinergia que tornou o iBET um centro de referência em biotecnologia a nível internacional e nos permitiu estar mais perto de parceiros através dos quais levámos mais longe o conhecimento científico e novas tecnologias que desenvolvemos. Continuaremos a apostar e a fomentar colaborações que nos permitam continuar esta estratégia, sempre focada nos nossos parceiros e no avanço científico, com o objetivo de criar mais emprego qualificado e de atrair mais investimento para Portugal na área da biotecnologia.