“O descanso/repouso é demasiadas vezes ignorado”

Data:

João Pereira, 23 anos, Gestor de Operações

O Dia de Consciencialização do Stress – tradicionalmente comemorado na primeira quarta-feira de novembro – visa promover a importância do bem-estar para o indivíduo. Na sua opinião, é fundamental estarmos atentos ao fenómeno de normalidade que o stress assume na sociedade? Por que motivo este facto acontece?
Nos dias que correm, o stress, a ansiedade e o desgaste mental das pessoas tem vindo a crescer substancialmente porque se vive cada vez mais com a ideia de que se deve viver para trabalhar em vez de se trabalhar para viver. Os trabalhos precários e os baixos rendimentos são dois dos alicerces que justificam a minha ideia inicial, uma vez que as pessoas se veem forçadas a trabalhar horas extraordinárias para terem melhores rendimentos, terem duas ocupações profissionais para terem um rendimento que corresponda aos altos preços praticados a nível imobiliário, de transportes e de alimentação. Tudo isso traz um enorme stress e ansiedade, porque têm de pôr comida na mesa, porque têm contas para pagar e porque querem viver uma vida para a qual não têm capacidades. Cada vez mais é normalizado este stress, esta ansiedade em que as pessoas vivem, porque, como sociedade, estamos conformados com as situações pelas quais nos fazem passar. Uma situação que, na minha opinião, sempre foi gritante em termos profissionais, é a normalização do trabalho para além das horas estabelecidas. Cada vez se acha mais comum que um bom trabalhador é aquele que tem de sair às 18:00, mas sai às 19:30. Em situações esporádicas, de imenso trabalho, entende-se, agora fazer disso um comportamento habitual é acabar com a sanidade mental de uma pessoa, uma vez que a falta de vida social é uma das causas para o aparecimento de stress e ansiedade nas suas vidas.

Apesar de invisível, o stress tem um peso elevado na saúde. Assim, no trabalho e no quotidiano, quais os sinais que não devemos ignorar?
Há vários momentos que acabam por passar despercebidos à primeira, mas que com o passar do tempo se tornam recorrentes e podem (e devem) ser vistos como algo grave e de grande peso na saúde mental de uma pessoa. O excesso de horas no trabalho é um deles: revela que a pessoa é incapaz de desligar da sua ocupação, bem como o diálogo constante sobre temas de trabalho. Tudo isso transmite a ideia de que a pessoa é incapaz de pensar e ocupar o seu tempo com outras atividades. Uma fraca alimentação, quando a pessoa perde paulatinamente o apetite indica que nem para comer tem tempo e todos nós sabemos o quão importante é ter uma boa alimentação para um bom estado físico e psicológico. O descanso/repouso é demasiadas vezes ignorado, ou posto de parte, e é essencial para recarregar energias, deixar-nos a mente limpa. No local de trabalho, a notória falta de concentração ou de memória, a incapacidade para tomar decisões assertivas, a impaciência e a ansiedade são tudo sinais que demonstram o excesso de stress com que uma pessoa pode estar a lidar naquele momento.

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